sexta-feira, 27 de março de 2009

Lula tenta “resolver” a Amazônia na canetada

Medida Provisória tenta regularizar ocupações na Amazônia: dará certo? para quem?

Desde o ano 1500, a Amazônia ainda segue com alguns dos mesmos problemas. Não se sabe de quem é a terra, e quem está na terra quase sempre não é dono dela. Seja de boa ou má-fé, fato é que a cultura da informalidade, a falta de cadastros eficientes e a completa ausência do Estado na região criaram ao longo do tempo um verdadeiro caos quanto à propriedade das terras.
Eis que vem uma Medida Provisória e resolve, num “pitaco” só, que todas as terras na Amazônia até um certo tamanho estão, a partir de hoje, regularizadas. Quem estava lá, parabéns! Posseiros, grileiros, pecuaristas, garimpeiros, assentamentos, Rambo: vai que é sua!!
A idéia é bem controvertida, mas tem uma razão de ser: uma das grandes travas para se aplicar a lei na Amazônia é que não se sabe quem é o responsável, já que quase ninguém tem a propriedade real das terras. Regularizando, cria-se estabilidade e permite-se o respeito ao meio ambiente, normas trabalhistas, etc.
Mas não é tão simples: enquanto o motivo pra regularizar é ajudar o pequeno agricultor, o terreno de “presente” chega até 1500 hectares (“só” 15 km2), o que faz duvidar das boas intenções da lei, permitindo que, sem cuidado no cadastro, grandes destruidores da mata sejam beneficiados. Além disso, mesmo com a propriedade, nada garante que se cumpram as normas que até agora foram ignoradas, sendo que a fiscalização continua raquítica. Vamos depender da boa vontade das pessoas (só pode ser piada!). Isso além de se abrir um baita precedente: quem garante que em alguns anos o governo, pressionado politicamente, não de uma nova anistia, e de novo, e de novo. Uma cultura de indiferença à lei, ratificada pelo Planalto.
Agora está acontecendo o debate no Congresso, sob a relatoria de um membro da bancada ruralista da região. Vamos ver no que dá!
Mas uma coisa é certa: se o problema está aí, praticamente o mesmo desde o primeiro dia do Lula, e de todos os presidentes do Brasil, porque baixar uma MP da noite pro dia? Seria apenas uma incrível coincidência que a legalização indiscriminada de terras na Amazônia saísse junto com a visita do Lula ao Fórum Social Mundial que aconteceu no Pará? Uma medida populista pela goela do povão ignorante, dando terra pra deus e o mundo, da noite pro dia, a calar a boca dos protestos por lá, e ainda sair de benfeitor? Nada a ver com o Lula, imagine!!
Pra quem não sabe, a “MP” é um tipo de norma que é provisória, dura apenas alguns meses, e pode ser baixada do dia pra noite pelo presidente, em casos urgentes, deixando pra depois a análise pelo Congresso. Enquanto isso, a situação jurídica fica em aberto – mais insegurança.
O problema é que esse é um tema complexo demais, importante demais, pra querer resolver na canetada. Resolver o problema da ocupação é urgente, claro, mas não pode ser feito nas coxas, porque se houver dano, será irreversível. O que esperou 500 anos, pode esperar mais uns meses pra se debater a coisa.

Como esse é um tema bem complicado, voltaremos ao tema da MP e da Amazônia em breve. Mas é hora de vocês mandarem o recado pros deputados em que votaram e ler sobre o assunto. Depois não vai dar pra plantar a floresta de volta...

Inteiro teor da MP:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Mpv/458.htm

quinta-feira, 19 de março de 2009

Perfume para lagos, rios e tudo que for podre!!!


Maquiagem ambiental

(Resposta ao post anterior) Se esse negócio de aspiração de lodo e lixo diluído na água fosse fácil a Baia de Guanabara já teria sido despoluída e os portos brasileiros estariam recebendo navios bem mais modernos do que as banheiras atuais.
Lógico que é possível dragar e isso é caro. Más se dá pra enfiar um trator lá e tirar a lama, lixo, lodo etc; por que não? O lago não tem mais vida, os peixes se foram e tudo vai ter que ser recuperado mesmo com o nosso dinheiro porque o Estado não cuidou.
Novamente a hipocrisia e a imagem venceram!

Viva o espelho d'agua, mesmo que seja de um tipo de esgoto que não fede. Imagina se inventam um desodorante pro esgoto e a moda pega, aí que os ambientalistas estão fudidos!!!!

Rios podres e esteticamente agradáveis.

Idéia barata e populista que combina com o país das jabuticabas!!!!

quarta-feira, 18 de março de 2009

Espelho de lama da Aclimação

O que o lago seco da Aclimação nos ensina sobre o povo e o governo

Trata-se de uma notícia local, mas que acho interessante por refletir algumas coisas interessantes sobre governantes, leis e povo. Como muitos devem saber, no final de fevereiro uma enchente teria levado ao rompimento da base do vertedouro (ladrão) do lago do Parque da Aclimação, SP. O lago secou imediatamente, deixando à mostra seu leito completamente assoreado, cheio de entulho, lama e areia, que chegava quase à superfície da antiga lâmina d’água.

Uma empresa foi contratada no regime de urgência e por uns R$ 160 mil consertou o equipamento, permitindo ao lago encher-se de novo. A questão: ora, se se falou que precisávamos limpar o lago, em estado de miséria, e já que agora o leito está seco, não seria mais lógico, barato e rápido fazer esta limpeza agora?!


Pois bem, uma pequena parte da população do entorno ficou indignada quando a Prefeitura decidiu encher o lago de água de novo, e deixar pra depois a limpeza. Uma ONG (Assuapa) até fez um protesto, mas lá está o lago cheio de novo. Fala-se que a Prefeitura está jogando a sujeira debaixo do tapete, a Prefeitura rebate dizendo que a limpeza é uma obra complexa, que precisa de licitação e que demandará mais tempo e dinheiro. Além disso, diz que a retirada do lodo e entulho seria mais fácil (?!) depois que a volta da água diluísse a sujeira para que fosse extraída via aspiração.

O que eu tiro de tudo isso?


Infelizmente, e isso é uma constatação vendo a cara e a quantidade das pessoas antes e depois de reencherem o lago, a decisão da Prefeitura está perfeita do ponto de vista político. Ora, claro que alguns cidadão vão reclamar, mas quem se importa? Fato é que quando a lama some da vista as pessoas não estão muito ai, ainda que ela fique meio metro sob a água ao lado delas. E o governo sabe disso, claro...


E sinceramente duvido muito mesmo que diluir o lodo, para depois sugá-lo, para deixá-lo secar e levar pra uma estação de tratamento a R$ 20 milhões (valor estimado pela PMSP) seja mais barato do que simplesmente enfiar uma escavadeira no lago e limpá-lo em uma semana, quando tudo já está seco e ao céu aberto. Mas quem se importa!


Neste caso, a limitação da lei que exige licitação pra obras não urgentes seria um contra-senso, já que o procedimento impediria a obra imediata, muito mais barata do que o benefício do melhor preço que uma concorrência ampla pode trazer com o lago cheio (além de que possivelmente pode-se tentar uma tomada de preços rápida, sei lá!). Seguir a lei aqui, por incrível que pareça, vai contra o próprio princípio que a lei protege. Mas talvez valha a pena esperar pela licitação, afinal, ela vai impedir que haja qualquer favorecimento na escolha da empresa contratada (risos).

Enquanto isso, o lago está cheio, e as famílias felizes voltaram a freqüentar o lago. Me pergunto se essa multidão pararia cinco minutos pra pensar no assunto...