quarta-feira, 18 de março de 2009

Espelho de lama da Aclimação

O que o lago seco da Aclimação nos ensina sobre o povo e o governo

Trata-se de uma notícia local, mas que acho interessante por refletir algumas coisas interessantes sobre governantes, leis e povo. Como muitos devem saber, no final de fevereiro uma enchente teria levado ao rompimento da base do vertedouro (ladrão) do lago do Parque da Aclimação, SP. O lago secou imediatamente, deixando à mostra seu leito completamente assoreado, cheio de entulho, lama e areia, que chegava quase à superfície da antiga lâmina d’água.

Uma empresa foi contratada no regime de urgência e por uns R$ 160 mil consertou o equipamento, permitindo ao lago encher-se de novo. A questão: ora, se se falou que precisávamos limpar o lago, em estado de miséria, e já que agora o leito está seco, não seria mais lógico, barato e rápido fazer esta limpeza agora?!


Pois bem, uma pequena parte da população do entorno ficou indignada quando a Prefeitura decidiu encher o lago de água de novo, e deixar pra depois a limpeza. Uma ONG (Assuapa) até fez um protesto, mas lá está o lago cheio de novo. Fala-se que a Prefeitura está jogando a sujeira debaixo do tapete, a Prefeitura rebate dizendo que a limpeza é uma obra complexa, que precisa de licitação e que demandará mais tempo e dinheiro. Além disso, diz que a retirada do lodo e entulho seria mais fácil (?!) depois que a volta da água diluísse a sujeira para que fosse extraída via aspiração.

O que eu tiro de tudo isso?


Infelizmente, e isso é uma constatação vendo a cara e a quantidade das pessoas antes e depois de reencherem o lago, a decisão da Prefeitura está perfeita do ponto de vista político. Ora, claro que alguns cidadão vão reclamar, mas quem se importa? Fato é que quando a lama some da vista as pessoas não estão muito ai, ainda que ela fique meio metro sob a água ao lado delas. E o governo sabe disso, claro...


E sinceramente duvido muito mesmo que diluir o lodo, para depois sugá-lo, para deixá-lo secar e levar pra uma estação de tratamento a R$ 20 milhões (valor estimado pela PMSP) seja mais barato do que simplesmente enfiar uma escavadeira no lago e limpá-lo em uma semana, quando tudo já está seco e ao céu aberto. Mas quem se importa!


Neste caso, a limitação da lei que exige licitação pra obras não urgentes seria um contra-senso, já que o procedimento impediria a obra imediata, muito mais barata do que o benefício do melhor preço que uma concorrência ampla pode trazer com o lago cheio (além de que possivelmente pode-se tentar uma tomada de preços rápida, sei lá!). Seguir a lei aqui, por incrível que pareça, vai contra o próprio princípio que a lei protege. Mas talvez valha a pena esperar pela licitação, afinal, ela vai impedir que haja qualquer favorecimento na escolha da empresa contratada (risos).

Enquanto isso, o lago está cheio, e as famílias felizes voltaram a freqüentar o lago. Me pergunto se essa multidão pararia cinco minutos pra pensar no assunto...



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